sábado, 17 de março de 2012

Casas

As casas não possuem proteção contra demonios e nem contra espiritos. Exceto se elas possuirem os mesmos dentro. É nisso que venho relatar neste mero texto. Um relato de uma pessoa que prefere ficar sobre anonimidade. Não queria postar, porém… hoje mais cedo eu estava no hospital para uma consulta ‘comum’ e com meu note escrevendo algumas coisas para postar aqui. Uma pessoa ao meu lado se interessou e acabou começando a me contar uma história um tanto quanto perturbadora. Este post não terá imagem alguma pois seria o mesmo que estragar ou misturar duas histórias completamente diferentes. Enfim.. chamarei essa pessoa de Miguel. Este nome não é o nome real… mas tem um significado neste momento para mim. Agora vamos a história em si.

Era uma noite comum em Campo Grande. Sábado (10 de setembro), aparentemente uma festa normal comemorando o aniversário de um dos parentes de Miguel. Muita bebida, muitas pessoas, muitas brincadeiras idiotas ou não. Coisas típicas de uma festa em família. Até então tudo corria bem, exceto pelo fato de uma das pessoas estar trancada em um dos quartos com mais dois ‘amigos’… o que faziam? A brincadeira mais ‘divertida de todas’… a brincadeira do copo em um tabuleiro de oija original, esculpido em madeira maciça e de mais de 80 anos de criação. Parece besteira e coisa de enrolação eu sei mas não é. Corria tudo bem para todos, a festa ia bem, os convidados se divertiam. Até então ninguém sabia das crianças brincando com tais coisas. Sempre evitamos essas coisas e nunca imaginávamos de que algum familiar fizesse tal brincadeira

(brincadeira de mal gosto por sinal.. algo que não devia existir - comentário aparte de Miguel)

assim sendo um dos convidados para a festa começa a falar coisas estranhas, baixas, sujas.. porém engraçadas até mesmo. Fazia comentários sobre crianças e até mesmo sobre mortes, torturas e coisas do gênero. Ele fazia isso naquele momento ser algo engraçado e nós, envolvidos pelo efeito da bebida simplesmente riamos e riamos sem pensar duas vezes. Logo outros começaram a fazer o mesmo. Ainda era nove e meia da noite, era cedo, e estávamos completamente perdidos sobre o efeito de alguma coisa que nos fazia rir…

(Acho isso tudo palhaçada até aqui - Comentário off)

Pouco a pouco iamos nos deixando levar pela comida. Dez horas da noite e um dos convidados desmaiado sobre a mesa. Riamos da cara dele. Até que algo que não tinha graça alguma aconteceu de forma totalmente assustadora… Augusto, meu primo que cuidava da churrasqueira acabou caindo por sobre a mesma do nada. Ele não havia bebido se quer uma gota de álcool e estava muito bem sobre seu humor e sobre seus atos. Se mantia firme… e logo… caiu por sobre o fogo sem motivo algum. Era cedo ainda… não podia usar como explicação o sono ou coisa assim. Porém nada fizemos para ajudar além de rir e rir mais ainda. Quando ele voltou a si levantou sobre gargalhadas e olhou para nós com uma expressão facial que podia passar medo… totalmente queimado… totalmente… deformado. Sua face era assustadora. Sua risada maléfica e seu olhar… bem, seu olhar era… prefiro nem comentar. Seu rosto sangrava, não existia se quer uma parte que havia escapado do fogo. E nós… bom… nós continuávamos rindo sem motivo algum. Quando demos por si já era onze horas e tínhamos um corpo ao chão com uma expressão totalmente queimada, porém… implorando por socorro ainda sobre toda aquela máscara sob combustão. Nesse momento eu voltei a realidade em uma dose de dor e uma mão queimada. Quando olhei ao meu redor eu vi apenas os convidados todos rindo do corpo caído ao chão. Eu olhava ao redor e não via a saída da casa, eu gritava o mais alto que eu podia pedindo ajuda mas era em vão… então eu ouço o som de um copo quebrar e logo um choro tão melancólico, tão perturbador, tão doloroso e… bom… sem palavras. Até então parecia algo bom, ver de que nem todos riam em meio a desgraça. E quando fui atrás do choro que levava para dentro da casa acabei olhando ao relógio e ver que era exatas 11:59 para 00:00… vi o exato momento de que do dia 10 de setembro passou para 11 de setembro. E tudo o que ria naquele lugar se calou. E não se ouvia mais nada além daquele único choro. Quando cheguei a fonte do único som que se podia ser ouvido naquele lugar, era impossível de abrir a porta. Ao qual particularmente, parecia estar sendo segurada por uma força extremamente sobrenatural. Onde humano algum conseguiria aparentemente quebrá-la. Quando logo noto de que outras duas vozes aparecem em um cenário perturbador. Essas vozes gritam por piedade, por salvação, por redenção. Como se implorassem pela vida… ou o pior. Como se a dor fosse exalada pelo doce e doloroso som de duas vozes infantis. Logo se ouve claramente uma única frase “Não queria ter entrado nesse quarto se fosse para terminar assim.” Logo me perco na ausência de alguma coisa. Me encontrando logo na realidade de que aquela voz havia sido calada. Não sei como, nem sei se doeu. Mas aparentemente havia morrido. Quando me lembro de que dentro daquele quarto tínhamos 3 crianças, e uma delas… bom… uma delas era meu filho.

Apenas para esclarecer, hoje estou neste hospital para tratar de minha mão, a qual se encontra neste estado (por favor. nem imagem o que eu estou vendo. a mão dele é… estranha - comentário off)

Enfim. Voltando a história. Logo já era meia noite e quarenta e cinco, e sob lágrimas escuto apenas o bater de meu coração e cada gota que caia no pensamento da possibilidade de ter perdido aquilo que era o motivo de meu sorrir, de meu lutar, de meu viver. Quando logo alguma força age sobre mim… ou sobre a porta a qual estava meu corpo contra a mesma. A porta se abre… e vejo um corpo ao chão, um sob o teto e o outro de baixo da cama chorando, abraçado em uma coberta. Era de se imaginar vendo tal cena, de que o corpo ao chão era de uma criança morta, a do teto… bom… a do teto parecia com uma forma demoníaca.. e a de baixo da cama com uma criança angelical.. porém… com medo. Mesmo sobre o impulso e sobre o extinto paterno, receei-me em ir em direção ao corpo ao chão, por medo do que podia acontecer a mim. Quando vejo… ao lado da criança, se tinha um copo quebrado, um pedaço de madeira com letras esculpidas e um pouco de sangue no chão. Quando olho para cima novamente e vejo a criança no teto. Vejo seu braço cortado, porém… um corte tão rápido, como se fosse atacado algo que se quebrou e passou por ali deixando sua marca. Nada mais naquele quarto, se era bom. Exceto pela criança deitada abaixo da cama. Seu olhar passava um sentimento confuso… suas lágrimas passavam paz… e parecia que era a única coisa que mantia a outra criança parada no teto. Quando olho no relógio novamente, vejo de que nada mais é do que 3 da manhã. O tempo parecia correr tão… lentamente. Já experimentou sobreviver ao menos uma hora sobre dor constante? Não parece uma hora… parece muito mais. Porém… falando assim em um relato para um adolescente, parece tão rápido. É como se nada nesse momento importasse.. apenas.. apenas contar pela primeira vez a minha história. Logo, me encontro sobre lágrimas novamente. E como se não soubesse o que eu havia feito, me encontro também ao lado da criança morta. Quando olho… vejo de que não é meu filho.. um pouco, egoísta da minha parte. porém… as seguintes palavras saem de minha boca ‘graças a Deus’… nesse momento… a criança ao teto se desespera, e correndo em um circulo com uma circunferência pequena se desespera mais a cada segundo. E quando vejo.. a criança no teto tinha uma marca.. uma marca de nascença e logo lembro… de que meu filho também tinha. Não sei o que era pior. Ver essa cena ou imaginar de que a dor podia ter acabado. Quando de repente caio ao chão.. e a criança ao teto, em uma ação quase que instintiva tenta pular. Porém a criança de baixo da cama, sai correndo em minha direção, pegando o tabuleiro joga para o outro lado do quarto ao qual era grande. A mesma criança que fez tal ato se arriscando aparentemente por mim… se deita sob meu peito e chorando apenas diz ‘talvez tudo acabe’. Quando a criança diz isso, vejo que sai uma fumaça escura da boca de ao qual tenho quase certeza ser meu filho. Essa fumaça formou apenas a forma de um número, e logo em seguida, de duas torres, e ela se destruindo sobre si. O que isso queria dizer eu não sabia. Porém.. no momento em que tudo começou a se destruir, um clarão tão ofuscante acontece, e que me faz aparentemente me perder em um sonho… assim… quando acordo deste ‘sonho’, vejo todos rindo de mim… desmaiado sobre uma mesa. Assustado.. olho para o meu primo, que está nesse momento quase caindo sobre a churrasqueira.. uma lágrima escorre de meu rosto, uma escolha bate em minha mente, um aperto me vem do coração. Um impulso… talvez instinto, talvez amor… talvez a dor de saber o que poderia acontecer.. e assim.. saio correndo em direção ao quarto, onde estava meu filho… meu sobrinho e um desconhecido… salvo os dois da minha família e o terceiro menino… apenas desaparece, em meio ao nada… ou talvez… em meio a tudo… a tudo o que eu passei. Dois dias depois, estava eu, internado em um hospício… apenas porque eu chorava, dizendo que sabia que ali tinha algo de outro mundo. Ou talvez desse mesmo mundo… porém… perturbador.

Hoje. Bom. Não hoje, mas alguns dias depois do ocorrido, descobri que a criança desconhecida… havia morrido a anos atrás… brincando com um tabuleiro de oija. Quando? Bom… parece que ele foi encontrado no dia 11 de setembro. Logo após o acidente das torres gêmeas. Porque ele fazia isso? Porque ele sabia… que em meio a toda a festa que se passava fora de seu quarto… ninguém se importava de verdade.

Então hoje… minha familia toda acha que sou louco.. perdi um primo… perdi minha esposa.. tenho uma mão inútil e o olhar reprovador de todos… apenas porque… eu tive a chance… de tentar de novo…

Fim.

Um comentário:

  1. Eu fiquei sem reação ao ver essa história,não sei se é triste ou sla,mais enquanto eu lia,sentia como se tivesse 1 pessoa a minha volta

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